há mais de mim nas coisas do que em mim.
nos lugares, no cheiro do vento.
onde dormi, mais que o sulco temporário de meu corpo,
que a fina camada de gordura e pele,
há o sonho e o assombro.
lá ficaram.
mas, quando ali retorno o olhar de dentro,
vejo que mais estou do que pareço.
vejo que a porta aberta que esqueci sem chave
gravou de mim uma partida que é mais
do que fui quando cheguei.
há mais de mim mesmo onde só estive em pensamento.
nas ausências, nas impermanências, ali estou, vigilante,
marcando a estada,
prenhez e prole, eu mesmo, onipresente, populoso,
territorial.
só assim
para aguentar este deixar de ser
constante
em que me perco, hora a hora,
sem nunca acabar de ser inteiro.
sou porque não sou;
estou porque, em outros lugares,
me abandonei.
minha âncora é o mar.
02/11/25

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