Número de sílabas (desde 11/2008)

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sábado, 27 de setembro de 2014

DESABAFO

Não é fome, nem sono,
Nem a raiva comum aos que veem no meio de cegos.
Não é sublimação do inalcançado,
Nem recalque do que, por minha culpa, se perdeu.
Não é ser xenofóbico natural,
Tampouco não me ufanar sob bandeiras,
Nem ser, porém, telúrico da casa devastada.
Acontece é que eu não gosto mesmo
É de gente.

27\09\14

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

QUANDO A VIDA É MAIS BONITA

Há um cadáver lendo outro para um terceiro,
E este último ilude viver
A quem o vê e ouve,
Porque morte mesmo é ter o espírito surdo
Ou não, a ele, dar ouvidos.
Há mais que vida na vida de quem, assim, morre
Ou desfila sua morte,
Porque a vida sem isso é nada mais que estados profundos de distração de si mesmo,
Um coma esfuziante, uma catalepsia epilética.
Viver é mais bonito
Quando a morte bate à porta
E pede licença para dizer o quanto cansa quando as coisas terminam
Depois de já terem tido, há muito, um fim.

25\09\14

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

CORTEJO


Parece que morreu alguém.
Tudo se sente, menos a parte que faz a gente não perceber que sente.
É um acordar definitivo, um desvelar das inocências, uma epifania clariceana.
Falta alguma coisa que era a mais importante, mas o que era?
Quem era?
Um pedaço, um membro amputado?
Deve haver, em algum lugar do coração, pálpebras.
E essa morte de charada mais me parece como se essas minhas pálpebras tivessem sido rasgadas com tesoura cega, e o peito quisesse fechar os olhos, mas não pudesse.
Onde, esse cadáver vivo?
Quando, esse presente morto?

24\09\14

terça-feira, 23 de setembro de 2014

DOS MISTÉRIOS ABSURDOS


Meu espírito é míope: não vê um palmo diante do nariz.
Tateia tudo e sai de narinas ao vento, como uma alma,
Mas sem o azedume religioso das almas.
Meu espírito é homem, feito de terra,
E padece da cegueira solitária dos homens,
Essa cegueira de raiz, que, se enxergasse,
Não enraizaria.
Contudo, mesmo não sabendo, procura, e esse não saber de nada
É que o ala.
Saboreia o mundo, cansa a língua na sensaboria,
À qual prefere, às vezes, o amargor ou a amargura,
Conforme a fonte.
E toda noite, cansado dos sentidos, cala-os,
Abre os olhos negros e estrelados, cegos, vítreos
(Olhos de espelho de cabaré antigo)
E dorme uma escuridão cintilante, salpicada de meteoritos
E outros mistérios absurdos.

23\09\14

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

The cool, cool river

19\09\14

COLEÇÃO


Colecione o mundo com seus olhos, e seu silêncio será repleto das vozes que você quer ouvir. A solidão não é a ausência das gentes, mas sim a cegueira do próprio espírito.

16\09\14

O jardim da alma



(Para Mateus Linhares, poeta e amigo, que tem uma rosa despetalando lindezas no papel)
Tire a alma da gaveta, lave-a e estenda-a no varal, como o fazem as pessoas muito pobres, em fios de arame, à porta de casa. A poesia deve ser limpa e honesta como roupas íntimas balançando no vento coletivo.
Amigos, este é um poeta novo, de uma safra de ótimos corações, que tenho o grande orgulho de conhecer pessoalmente e cujos textos conversam muito bem comigo. Prestigiem, por favor, a sua página, pois é, sem dúvida, um jardim de sentimentos muito bem cuidado: O jardim da alma.

https://www.facebook.com/pages/O-jardim-da-alma/323678117812485?ref=notif&notif_t=fbpage_fan_invite