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quinta-feira, 30 de novembro de 2023

DESENCAIXE



Todo dia, um pedaço de mim sai de casa
Vai à rua, pega ônibus, toma sol
Compra café
E se perde como aquelas peças de quebra-cabeças
Do Corcovado e do Cristo Redentor
Que minha mãe me comprou
Tirando do dinheiro reservado ao mercantil

Cento e vinte peças, todas miudinhas

Muitas mais sou eu

Muito mais me perco

A despeito de todo o desencaixe

30/11/23

terça-feira, 7 de novembro de 2023

MORTE À VALÊNCIA DA SAUDADE

(Clique na imagem para vê-la no tamanho original e na legenda, para acessar a página de origem.) 

(Poeminho linguisticoso e recalcado de fim)

A Gramática determina
que a saudade é valente
Palavra de substância, de um argumento só,
o qual, preposicionado por um de,
a complementa

Já eu digo
que valente sou eu,
cujo nome, avalente e intransitivo,
nada completa

E que o que foi, indiretamente, objetificado,
que jaza! entre os tantos nomes outros
que actam apenas semânticos
nas ruminâncias da memória

Saudade não tem objeto
Saudade não se mata
nem vira livro

Saudade se organiza entre os outros abstratos inúteis
no concreto dos neurônios mais velhos,
onde não há nenhuma sintaxe possível
de complementação

Ao final, é verbete apenas,
irremissível e estrutural
que a língua professa lacônica
e — por que não? —
saudosisticamente

07/11/23