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sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

JANEIRO

(Foto: Fernando de Souza. Clique para ampliar.)

gota a gota, o jardim aceita a chuva,
que tira do telhado
a roupa do verão.

debaixo, a terra, no escuro,

a despeito de seus arrepios
— a que chamamos primavera —,
planeja os rios que sangram nos mares,
onde mora a alma das chuvas.

o que somos
simplesmente assiste,
temeroso e encantado,
entre bicas, goteiras e enchentes,
ao petalar-se das flores que desabrocham em nós
e à miséria da lama que soterra vidas e memórias.

nos hiatos de sereno,
em que até a lua chora, melancólica,
lacrimeja o peito sertanejo a aurora
e o orvalho matinal da invernada.


31/01/20

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

ALIENAÇÃO

(Foto: Fernando de Souza. Clique na imagem para ampliá-la.)

é preciso esquecer as tempestades
e todo o alarde da morte e suas anunciações.
é necessário ser insensível à dor da navalha
que se esqueceu na pele e lá ficou.

não é por maldade
nem é alienação.

é da vida mesma esse esquecer
quando uma hora qualquer se achega
marulhando baixinho,
esvoejando as saias pela janela,
e ondeia na praia como o rumor de um beija-flor
e se permite passar devagarzinho, bonitinha,
distraída e vadia nos seus flertes.

é mais que necessário ser surdo
aos clamores da miséria,
aos gritos dos terrores
e aos estertores da agonia
para que os ouvidos fiquem livres.

as flores só cantam a primavera
a ouvidos vagabundos.

há que se ser distraído
para perceber o fecundo oculto
que se gesta no útero da noite
e olhar nos olhos do dia nascituro
em que se pode ser feliz.

27/01/20

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

POESIA


teus dois hiatos
sinérese impossível
como dois chãos que viram muros
que pulamos
molecamente

17/01/20