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(ah, poesia…
se eu de ti me ria,
o que, sem ti, eu faria?)
procura no som de tua boca,
no texto que te vai no sangue,
o verbo sem letras que evocas,
que nunca disseste, mas ganes.
borraste-o de tuas plaquetas?
queimaste-o quiçá por engano,
ateando nas bibliotecas
o fogo melhor de teus anos?
comeste-o, faminta de ti,
inane de amor e de fúria:
no oco do ventre, o carpir;
na boca e na voz, a loucura?
se a alma que é dele era a tua,
verdade que nunca o disseste?
se é assim, no inferno, procura
o espelho em que tu adormeces.
mataste o que tu não formaras,
mas te sustentava, invisível:
o leito em que ancoraras
teu corpo, tua nave impossível.
ausente, a palavra inda existe:
viver, talvez interpretar…
a ti, o tempo não permite
saudade ou dor que vingará
a morte, que, por ti, mataste;
a vida, que não mais terás.
sem ti, não és mais o estandarte
de tua nação insular.
agora, que a palavra existe,
tu és a ausente que está:
visita sem ter quem visite,
memória sem ter quem lembrar.
03/04/24