Número de sílabas (desde 11/2008)

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domingo, 30 de novembro de 2014

GENESIS

Amanheci
Mas já era noite.

Tenho sido escuro desde então.

30\11\14

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

PONTO DE FUGA

Foto: João Machado
(Clique na imagem para ampliá-la e no nome do artista, para visitar sua página)

Daqui, donde vejo o mundo,
Eu parto
E fico cada vez mais um ponto distante
De não haver mais
De onde partir.

26/11/14


sábado, 22 de novembro de 2014

Seu Lunga

(Clique no nome do artista para acessar sua página)

Acontece, muito raramente, de um homem virar folclore e ganhar o tamanho de sua gente.
Isso é o máximo que uma pessoa pode desejar ser.



Joaquim Santos Rodrigues, o “Seu Lunga”
* 18/08/1927
+ 22/11/2014

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

TESTAMENTO


Fique isto posto:
Cumprirei com o acordo
E farei a minha parte
Na reciclagem desta carne.

Darei ao solo os meus nitratos,
E só!
Exigir mais de um homem é desumanidade.

17\11\14

sábado, 8 de novembro de 2014

NOITE POUCA


Tem mais noite dentro de mim do que fora.
Eu preciso de uma noite maior,
e não carece luzirem lua, estrelas nem postes
— durmam todos os vaga-lumes —,
que minha noite é para dormir meu dia,
caberem meus silêncios
e calarem minhas feridas.
Chega de amanhecerem-me gritos
quando me calam finalmente os silêncios.

08/11/14

TANTO


Eu tenho orgulho de não saber tanto
Que não me deixe ser quanto
Queira.

08/11/14

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

DAS PALAVRAS E DOS HOMENS


Lembra como era
quando você não fazia parte de si mesmo
e tinha de pertencer ao mundo?
Não havia ainda as conexões
e suas mãos tocavam as palavras.
As palavras e o mundo por trás delas eram táteis,
e você era lido por si, e não por elas.

Hoje, a palavra é o homem,
e o homem some do écran da vida
como se essa morte-vida repetida
fosse o tempo formatando um espírito sempre ressurgente.

O que fazer num mundo sem indelebilidades?

Você cintila “vc” num monitor preto
e existe enquanto brilhar nessa tela-janela.
Lembra quando éramos estrelas
E brilhávamos mesmo depois de, há muito, extintos?

04\11\14

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

ALMA SERTANEJA

(Clique no nome do artista para acessar a página) 

Todos os sentimentos ruins são fortes, fortíssimos.
O amor, a compaixão, o carinho são frágeis, débeis, tíbios.
Na escuridão do corpo, não têm força de engendrar-se. O corpo é forte.
Nele, nas axilas, nas virilhas e nos intestinos, reinam a mágoa, o rancor e o ódio,
Como reina um sol que se emeiodia num chão sertanejo
Assim que nasce
E tiraniza até avermelhar as fúrias do crepúsculo.
A alma, essa coitada, vaga de lá pra cá
Frágil, débil e tíbia
Carregando o espírito do homem sobre o lombo,
Anjinho semimorto e agreste,
Às beiras das poças plúmbeas das águas que os bois sobejaram.
A alma, essa mãe esquálida, não pode com o corpo, potência de fogo e pó,
Mas é ela que anoitece
E dá de beber ao amor, à compaixão e ao carinho
De seu peito murcho, com o leite mais frágil, débil e tíbio,
Até a hora amarela da próxima aurora renascente.

06\11\14

domingo, 2 de novembro de 2014

LIVRAI-ME

Matej Kren - Idiom
Torre em espiral feita com livros abrigada na Biblioteca Municipal de Praga.
(Clique no nome do artista para ver mais sobre seu trabalho)

Eu, que me achava quixotesco,
Acabei me perdendo clariceano…
E, na multipessoa dividido,
Viniciei-me de não me epicurar
De toda essa gullarte cheia de bandeiras
À ribeira ubalda desse jorgeamado mar.

Colhi do povo a rosa drummondiana
E exuperyei-me na dos saaras
Das cobras e raposas escondidas.
Cheguei a rogar à ariana compadecida
Uma audiência com a moça caetana.
Vestida de sol, a onça suassuna
Deu-me a rosinha por que tanto esperara.

Caminhei pelo agreste das escolas normais
E aprendi das florípedes das fêmeas
Que as capitulinas normas lúcias
Das macabeias das terras anas
Diadorim-homem luzia, que as outras, mais.

Fui seco na vida graciliana
E andante nas saavedras,
Mas, por cem anos me gabo,
 
De buendías me arcadio,
Saramago-me lúcido

No ensaio que me engendra.

Bordejei a besta melvilleana
Qual um ulisses despenelopeado.
Embalei árvores unamúnicas,
E entalhei-lhes o nome ASSIS a machado.

Tudo vi e de tudo fui o tamanho,
Tendo por mim um tanto ficado
Num pequod errante engarrafado
Num’água bukowska e caeira,
Cheia de doçura quintana
E de uma elegante dor leminskeira,
Onde nado nonada
E onde, até hoje, guardo meus rebanhos.

02\11\14