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terça-feira, 5 de outubro de 2021

ALGUM LUGAR



em algum lugar, alguém está passando um café
por amor, simplesmente.
alguém dorme dentro de alguém
que escolheu ser cama.
em algum lugar, um sino dobra
apesar de não se entenderem mais os sinos.
em algum lugar não muito longe,
um broto novo atende ao Sol,
gretando na calçada imunda
a esperança diária.

sempre há um lugar
para as pequenas inutilidades,
essas que, à luz da Cartografia,
nunca existem nos mapas,
em que pese o fato de os mapas
não serem em nada úteis
a lugar nenhum.

há sempre um lugar que é como o nariz,
o qual do dono o cérebro ignora.
porém, respira, respira…

normalmente, consiste num quintal
ou num chão de sala
onde a casa não tem mais dono,
onde a casa é de todo mundo
— é em casa que não é de ninguém
que habita o imprescindível.

em algum lugar, que eu sei,
jazem maneiras velhas sob a sombra de um juá
o ressono do que já, e nunca mais, é novamente.
em algum lugar,
o novo se recria,
e o que resta ser
começa.

05/10/21