Número de sílabas (desde 11/2008)

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quinta-feira, 28 de maio de 2015

BAR


O que é o mundo,
Senão esta pergunta?
E a vida, que junta
Homens no fundo
De copos imundos
A beberem resposta e pergunta

Enquanto esperam?

26\05\15 

PENÉLOPE


Eu, ela e, no meio do caminho
(e o próprio caminho), a noite.
Quando se é para dentro, é atalho.
Para fora, odisseia.
O barco do sono, sem pano, sem leme,
e o mar negro de asfalto e pedra
esquece as correntes na água do chão
e encrespa ondas de cortarem os pés.
Navegar não é para quem tem coragem.
Navegar é para quem não tem mais nada.

28\05\15
 

sexta-feira, 22 de maio de 2015

MISTER

Ensinar é a única eternidade que conheço. Além de, talvez, ser pai (especulo). Contudo, boto mais fé na minha gramática que em meus genes. O deeneá do professor é uma coisa que codifica o espírito. A carne que trema, que se estrebuche e goze, mas é em outras almas que eu gozo a engravidá-las. Nelas, vivo como vivem na minha todos os que me ensinaram e os que a estes o fizeram, numa cadeia que reboca o grande início, quando éramos todos menos que promessas, grãos no húmus da mesma gnose, sinapses do mesmo sonho, letras da mesma palavra.
Ensinar é presentar, passadear e futurar. É deixar-se no tempo, sabendo que o tempo apaga a existência, mas esperando que a palavra, como o homem, subsista ao tempo.

22\05\15

sexta-feira, 1 de maio de 2015

SALA DE AULA

Vão costurar tua carne, vão-te banhar o corpo, limpar-te as manchas de gás dos olhos.
Vão-te dar tantos-por-cento, sabatinar-te no domingo do bispo, entregar-te lauréis de bastião e oferecer-te palavra na Câmara.
Vão-te gritar o nome e gritar-te nomes.
Vão-te entregar desfraldada a flâmul'auriverde.
Vão-te chamar num canto, talvez, para um conchavo.
Vão-te comprar. Vão-te vender.
Vão-te em vãos donde serás caminho de reis.
Só não te vão, mestre, limpar a marca da bota na cara que deste a tapa, em troco de verem nela os estigmas do País: fileiras imensas de marginados da Ordem e do Progresso, vidas atrofiadas pelo gás e pelo nó, pela imprensa e pela prensa, pelo baile e pela cela.
Só não te vão dizer que acertaste em educar o filho errado, o bastardo dos sonhos, o aborto ambulante das caravelas fedidas.
Vão-te, sim, pesar os feitos no prato austero da virtude dos que "se entregam" pela educação.
Só não te dirão que se entregar e se render são verbetes gêmeos no que diz respeito a ti e que a bala de borracha em tua costela é para que te cies de teu lugar na cadeia alimentar do Estado: és tu quem prepara os quitutes e as marmitas que alimentam os leões desta nação!

Vai-te, professor, que é hora da merenda, e o País tem pressa!

01\05\15