(Foto: Fernando de Souza. Clique na imagem para ampliá-la.)
é preciso esquecer as tempestades
e todo o alarde da morte e suas anunciações.
é necessário ser insensível à dor da navalha
que se esqueceu na pele e lá ficou.
não é por maldade
nem é alienação.
é da vida mesma esse esquecer
quando uma hora qualquer se achega
marulhando baixinho,
esvoejando as saias pela janela,
e ondeia na praia como o rumor de um beija-flor
e se permite passar devagarzinho, bonitinha,
distraída e vadia nos seus flertes.
é mais que necessário ser surdo
aos clamores da miséria,
aos gritos dos terrores
e aos estertores da agonia
para que os ouvidos fiquem livres.
as flores só cantam a primavera
a ouvidos vagabundos.
há que se ser distraído
para perceber o fecundo oculto
que se gesta no útero da noite
e olhar nos olhos do dia nascituro
em que se pode ser feliz.
27/01/20
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