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sábado, 2 de novembro de 2019

DO LADO DE DENTRO DAS PALAVRAS


do lado de dentro das palavras
ocorre um conselho secreto de sentidos
às vezes, guerra, e lacunas se abrem com as trincheiras
sentidos morrem para sempre
ou até a ressurreição semântica

às vezes, os sentidos se entendem, e reina a paz
aconteceu com a palavra “peremptória”
palavrinha chata do caralho
— não duraria três segundos descalça na roça ou na favela
onde seria comida de porradas, esquartejada a foice
e martelada à gosma viva nos lajedos e nas lajes —
imóvel, inerte como um cadáver embalado a vácuo
utilizável apenas em aulas de anatomia vocabular
e nos estupros vernaculares dos tribunais de justiça

às vezes, os sentidos se embiocam em orgias
e estendem suas genitálias trespassadas de metáforas e sinestesias
até sangrar rios de esperma e traços
numa semiose putificada e profusa
como um ovo eclodido de aranhas

de toda forma, às palavras, intimamente
gozam a fruição de si mesmas
velas breves ou círios eternos
prenhas de tudo o que não somos:
mistérios ajuntados nos discursos
fragor luminoso no obscurantismo dos textos
e de nossas vozes
deslugares de fala que nunca se ocupam
e que tudo têm a dizer

02/11/19

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