não meças nunca a noite do teu cansaço
pela aurora do vigor alheio.
só as tuas derrotas
é que sabem de ti
e de tuas ressurreições.
tu rastejas nessa noite
sem pele, sem pés, no asfalto imundo,
incógnito,
desaparecido.
contudo, não temas a noite
nem a odeies.
deixa-a fazer
o que ela faz de melhor
— matar-te —
e conta as estrelas se não chove,
que é entre uma e outra,
muito além delas, porém,
que adormeces,
e a tua própria noite encontra na outra
o colo materno que faltava
a quem te venceu;
e todos os teu irmãos extraviados.
já os guerreiros,
obtusos por incapacidade,
o que veem são deuses no céu,
e tudo lhes é nada mais que gráfico
e matemático
no preenchimento desse vácuo,
para o qual inventam
hinos, bandeiras
e outras que tais inutilidades.
sabem menos que tu,
que padeceste as tuas torturas
e as deles;
vivem menos que tu,
que morreste mil mortes
e vives no peito causticado
dos outros crucificados diários.
tu, agora,
conheces a matéria heterogênea
da noite verdadeira.
deitaste.
descansa.
guarda do céu a última friagem,
que, além, no lado oposto da dor
e do tempo,
te aguardam reconstruídos
os teus irmãos,
e é lá o teu lugar.
31/03/21

Este blogue se destina ao uso artístico da linguagem e a quaisquer comentários e reflexões sobre esta que é a maior necessidade humana: a comunicação. Sejam todos bem-vindos, participantes ou apenas curiosos (a curiosidade e a necessidade são os principais geradores da evolução). A casa está aberta.
quinta-feira, 1 de abril de 2021
1º DE ABRIL
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3 comentários:
Espetacular....
Triste e impactante, como deve ser! Muito bom!
Na noite vivemos e nela também morremos e ressucitamos e voamos a recantos longínquos e sós, porque incompreendidos. Excelente poema, meu amigo.
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