Placa indicadora de minha rua, que fora afixada na fachada de minha casa nos anos de 1970, retirada posteriormente devido a uma reforma no anos de 1990 e, atualmente, peça de decoração de minha sala (foto do autor).
sinto falta da minha rua de calçamento irregular,
que me trazia a casa
e era o meu lugar entre o meu mar e o meu sertão
hoje, asfaltou-se
como um rio assoreado,
onde o tráfego esmaga
o peixe em que a evolução errou
nem um centímetro a mais foi posto,
mas uma distância definitiva, invencível,
ilhou cada um de nós,
náufragos, aratus refugiados
em buracos na areia
perderam a graça as chuvas nas biqueiras
e as guerras de jambo
entre nós, os ribeirinhos acanalhados
a guerra de hoje é outra:
é entre o prédio e a gente;
é entre as facções e a gente;
é entre a polícia e a gente;
é entre a gente
o tempo passou pela minha rua em paradas militares,
em procissões de loucos,
em desfiles de Santos Reis
mas, principalmente, o tempo
arrastou sob seu ventre
nossas pegadas, nossa história,
nossas árvores,
como fazem máquinas compactadoras
terraplanando o futuro
ainda teimo em curiar
quem, dos que ficaram, ou suas crias,
que riscará a pedras de cal
o próprio nome na própria calçada
da própria casa,
mas, sem sucesso
não há mais basculhos
nem de muros nem de gentes
que se escrevam no chão
como quando a rua era uma tribo
e nela vadiavam selvagemente
os sonhos de quem nunca fomos
24/10/25
que me trazia a casa
e era o meu lugar entre o meu mar e o meu sertão
hoje, asfaltou-se
como um rio assoreado,
onde o tráfego esmaga
o peixe em que a evolução errou
nem um centímetro a mais foi posto,
mas uma distância definitiva, invencível,
ilhou cada um de nós,
náufragos, aratus refugiados
em buracos na areia
perderam a graça as chuvas nas biqueiras
e as guerras de jambo
entre nós, os ribeirinhos acanalhados
a guerra de hoje é outra:
é entre o prédio e a gente;
é entre as facções e a gente;
é entre a polícia e a gente;
é entre a gente
o tempo passou pela minha rua em paradas militares,
em procissões de loucos,
em desfiles de Santos Reis
mas, principalmente, o tempo
arrastou sob seu ventre
nossas pegadas, nossa história,
nossas árvores,
como fazem máquinas compactadoras
terraplanando o futuro
ainda teimo em curiar
quem, dos que ficaram, ou suas crias,
que riscará a pedras de cal
o próprio nome na própria calçada
da própria casa,
mas, sem sucesso
não há mais basculhos
nem de muros nem de gentes
que se escrevam no chão
como quando a rua era uma tribo
e nela vadiavam selvagemente
os sonhos de quem nunca fomos
24/10/25
