na ilha, são as ondas que trazem novidades:
lixo da melhor qualidade, do plástico mais cancerígeno
a mimos de MDF, bibelôs de cacos de vidro
e cartas, muitas cartas de amor terceirizadas
— narrativas meméticas elaboradas pela mais sintética IA
e balés tiktokeanos de hipnótica sensualidade.
da ilha, a maré que leva alma e conteúdos midiáticos
também remete fragmentos de pele e sangue,
além de pelos de toda sorte e cascabulhos de dentes
com destino aos recifes,
onde todo um viveiro de xaréus e anêmonas
fazem as vezes de pets e receptores.
há também extravios,
e calha de um tudo encalhar em outras ilhas;
e maravilhar etnias distintas de canibais, e pigmeus,
e outras gentes mais evoluídas,
que acreditam que o mar lhes prega peças
em que homens mimetizam horrores desconhecidos
e outras coisas incompreensíveis.
também há cartas e canções
que cabe ao vento compor em suas tempestades
e muitos, quase infinitos
olhares desendereçados
— cargueiros abarrotados de especiarias
e fartos desjejuns
que têm na ausência de destinatários
a sua própria e particular viagem.
deitam-se na preamar à espera da vazante,
garrafas prenhes de naufrágios que são,
e se lançam sonâmbulas,
engravidando-se ainda mais
à medida que mais naufragam.
a elas, o mar as deixa em paz,
que jaez de quem deriva é sonho
tal qual o de espírito que perambula
pelos cantos escuros de uma casa:
sonhar é deixar-se dormir,
e partir sem destino é como regressar.
10/05/25
lixo da melhor qualidade, do plástico mais cancerígeno
a mimos de MDF, bibelôs de cacos de vidro
e cartas, muitas cartas de amor terceirizadas
— narrativas meméticas elaboradas pela mais sintética IA
e balés tiktokeanos de hipnótica sensualidade.
da ilha, a maré que leva alma e conteúdos midiáticos
também remete fragmentos de pele e sangue,
além de pelos de toda sorte e cascabulhos de dentes
com destino aos recifes,
onde todo um viveiro de xaréus e anêmonas
fazem as vezes de pets e receptores.
há também extravios,
e calha de um tudo encalhar em outras ilhas;
e maravilhar etnias distintas de canibais, e pigmeus,
e outras gentes mais evoluídas,
que acreditam que o mar lhes prega peças
em que homens mimetizam horrores desconhecidos
e outras coisas incompreensíveis.
também há cartas e canções
que cabe ao vento compor em suas tempestades
e muitos, quase infinitos
olhares desendereçados
— cargueiros abarrotados de especiarias
e fartos desjejuns
que têm na ausência de destinatários
a sua própria e particular viagem.
deitam-se na preamar à espera da vazante,
garrafas prenhes de naufrágios que são,
e se lançam sonâmbulas,
engravidando-se ainda mais
à medida que mais naufragam.
a elas, o mar as deixa em paz,
que jaez de quem deriva é sonho
tal qual o de espírito que perambula
pelos cantos escuros de uma casa:
sonhar é deixar-se dormir,
e partir sem destino é como regressar.
10/05/25
Nenhum comentário:
Postar um comentário