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domingo, 1 de agosto de 2021

AGOSTO

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por aí, no meio do mundo,
ainda há jogos e lutas rebarbando as pessoas.
nos bares e botecos, meus amigos pelejam contra a morte,
uns com os outros.
todos resistem, todos soterram os silêncios
sob camadas e camadas de palavras encharcadas.

a lama das palavras é fértil.
dela, nascem sonhos de dias melhores
e decapitações públicas.
no topo, no cogulo dos sonhos, um pomo imundo,
vermelho e vagabundo,
serve aos morcegos e periquitos
o sumo vivo da terra molhada,
a carne-e-sangue da comunhão da miséria
com o ódio
de se ver na noite, esparramado e invisível,
de se feder no ar, irrespirável:
a imperceptível hemácia
do sangue da revolução.

triste corpo, pobre corpo, que sangra em silêncio
há tanto tempo,
alimentando vermes e vampiros.

resta o sol, esse dia colonial,
essa alvorada em trombetas que anuncia mais uma marcha,
mais uma jornada de trabalho,
mais um milagre
que nos ressuscita e iguala a todos num mesmo corpo,
numa só máquina
— em que somos tudo, menos gente.

01/08/21

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