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sábado, 3 de julho de 2021

JARDINS SUSPENSOS

Jasmim-do-caribe
 
do terraço de um edifício alheio,
vejo na sacada de outro
um jasmim-do-caribe não fazer diferença nenhuma
no massacre e no genocídio que correm no asfalto.

o branco-leite das flores
diz no azul celeste que existe uma Grécia,
e o açúcar no cheiro
sabe a adolesceres e deflorações suspirosas.

contudo, a terra roubada no miolo do vaso
levou consigo o sangue de milhares,
negros como a terra,
podres como o estrume,
férteis como o adubo,
os quais, sem nada de branco,
seivam os caules finos,
delicados, da vida suspensa
que ignora a existência da morte.

colhidos,
adornam os arcos rosa das orelhinhas
da filha mais nova,
linda como a irrealidade,
calçadinha de chinelinhas azuis,
imaculadas da sujeira do mundo,
e chafurdando na pureza floral da antessala.

no prédio ao lado,
no mármore antigo,
habitam todas as gerações
que, dado o ininterrupto polimento,
formam enormes salões de espelhos suaves,
multicoloridos de flores sem chão,
espalhadas na perpetuação das tardes coloniais.

23/06/21

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