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quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

AURORA Nº 1

Foto: Talita Laila.

(Para Clarice, minha filha, minha Aurora e minha vidinha.)

foi a tua voz feiinha, gritante, zangada,
que fez nascer o dia
e ressignificar-se o silêncio,
que antes não sabia nada de ti

foram os teus olhinhos grandes,
ictéricos,
que, ao se livrarem das ataduras
da agonia,
raiaram nos meus um sol inédito
nas manhãs ordinárias de dor e sono

foi o teu cheirinho, foi a tua pele,
foi teu cabelinho acastanhado
que ensinaram o beijo
aos sentidos desabitados de ti
e sentaram praça
como a Aurora faz com a serra
e dá à flor lições de vida

foi a própria vida,
que acordou brincando
com aquela grande novidade de estar viva:

— eis que nós e o mundo
tivemos de aceitar o apenas
de sermos para ti brinquedos
e objetos de transformação
como o Sol, que de tudo extrai as cores
e com todas traquina na sombra,
desordenadas como tua risada,
as reinações de estarem vivas

20/12/20

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