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quarta-feira, 23 de setembro de 2020

IRMÃO AUSENTE


gíria é quase sempre
puro contexto.
veja a palavra “mano”:
quando dita por um capoeira,
um pescador, um roceiro,
com o afeto intensificado
pelo adjetivo “velho”
e suas corruptelas tão bonitas,
é carinho no espírito,
que se entende irmão e filho,
há muito tempo,
da terra e dos homens.

mas, quando ela vem
bem paulistinha,
ou com as vogais deformadas
pela poluição comportamental das praias,
ou carrega a efemeridade
do aluguel da juventude
aos estrangeiros
nos shoppings e na web,
em troca de espelhinhos e miçangas,
ela é prego no ouvido
e estupro na esperança
de que se possa estar entre irmãos.

melhor se fosse brother,
ou melhor,
bróder,
palavra furtada
que não mata ninguém
no sertão da minha memória,
que ainda é jovem o suficiente
para morrer todo dia
e renascer palavra por palavra
no silêncio desse mundo.

22/09/20

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