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os homens não se sustentam
em sonhos
é nas pedras que estamos
nos penhascos
a um passo da estatística
ou da lenda
carregamos nas cabeças
os pedregulhos basilares da sociedade
cimentados uns aos outros
com a argamassa dos mortos
é nos rins que carregamos
doendo na uretra
sangrando na glande
as pedriscas anuréticas
pavimentadoras da sociedade
é nos calcanhares
dos pés ensapatados
que teimam as pedras
da memória arenosa dos homens
e as palavras e os silêncios
são areia e pó
detritos que o vento leva
e se acumulam nas gretas lacrimais dos homens
enlameando as bocas
erodindo-se em sertões
desertificando os homens
portanto
não são sonhos
muito menos palavras
nem nada transcendental como a arte
ou deus
o que muda a sociedade dos homens
o que muda a sociedade dos homens
são pedradas
disparadas certeiras
arremessadas com ódio
e amor
no espaço oco e salgado
na cal estéril
que virou o coração dos homens
é o sangue
mineral vermelho
ancestral do magma
que sequer sonhou a rocha
a mulher humilhada
enterrada até os joelhos
apedrejada na têmpora
que fará o levante
e a redenção
da pedreira dos homens
04/09/19
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