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segunda-feira, 2 de março de 2020

O INVISÍVEL

e esta incomunicabilidade?
resolve-se como? com a poesia?
mas se a mesma poesia necessita
da intermediação do vazio,
esse céu e inferno dos talvezes,
para, só depois de muito garimpo
e erros de labirinto,
chegar única, singular
e diferente de mim
a quem nunca é quem lhe iniciou
a leitura
e menos ainda
— menos que nunca —
a quem lhe estufa as asas?

é como mandar por um filho
um recado
que ele balbuciará disléxico
ao seu pai adotivo.

amigos morreram; amores, também.
mas o motor das mandíbulas
vibra em ponto-morto
o que o sinal, sempre fechado,
ilegaliza.
a noite dorme.
eu, não.
ultrapasso o cruzamento,
certo de colidir.

porém, adiante, o asfalto,
negro e fustigado,
prostituta esgarçada em seu sono de repouso,
ressona ao meu atrito
a ausência de todos os veículos.

somente os gatos,
suicidas atocaiados,
cruzam as linhas comigo.
entre latas e copos virados,
colorimos o p&b do inferno
e escrevemos escandalosamente
o invisível.

02/03/20

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