(Para o meu irmão, que me fez querer dançar.)
foi-se o meu sangue,
foi com os mortos,
foi para as almas.
foi-se um herói torto,
peça inútil num quebra-cabeças errado,
que morreu muito antes da morte,
campeando a bandeira da ruína.
que minha mãe o acolha,
que meu pai o perdoe
e lhe peça o devido perdão.
que haja um céu onde ele caiba,
que haja um anjo que lhe valha,
de berimbau na mão
num terreiro de paz.
que lhe acabe a guerra
com o tátil invisível,
e que o deus dos meninos que se perdem
lhe mostre a melhor parte da praia
onde as conchas e os búzios mais lindos
aguardem-lhe a colheita do artesão.
foi-se o meu sangue,
foi-se um meu herói
— o meu belo e louco guerreiro manco —,
mas um menino dentro de mim
ainda imita, fiel e dedicado,
o moleque que o inspirou
e não morreu.
25/03/20
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