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domingo, 21 de outubro de 2018

PESTE NEGRA

 (Guarda-chuva que foi confundido com um fuzil pela PM do RJ. Clique aqui para ler a notícia)

(Este poema é por Rodrigo Alexandre da Silva Serrano, assassinado pelo Estado por ser negro)

A pele ictíica
A têmpora esponjosa
Sob a pele hematômica
Fibras imóveis permanentemente
Sujos a roupa, a carne, a calçada
O nome e a estatística
Grão de morte anônimo
No monturo da favela

Fora filho, pai, irmão
Só não fora gente
Elemento fora da tabela
Partícula substancial do povo
O oposto da utopia meritocrática
O incômodo trágico do liberalista
O cálculo renal da diurese urbana

Súbito
Encontrou a bala perdida
No diálogo entre o Estado e o povo
Alimentou, banguela, a cárie do Leviatã
E o telepronto vespertino
Acumulou circunstantes
Favoreceu discursos
Virou argumento de sargento
Em péssimo português técnico-instrumental

Fugira da escola
Que não o quis
Aprisionou-o a palavra
Óbito
Virou discurso jornalístico

Deixou gritos, silêncios e sirenes
Filhos reparidos em aborto reverso
Direto na barriga de Jonas travestido de baleia
Lá dentro, encontrou Nínive
Sodoma e Gomorra
E, no subdiluviano mundo
Jazeu morto
Mazela morta
Porém viva graxa preta
Nas engrenagens dolentes do intestino urbano

18/10/18

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