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domingo, 21 de outubro de 2018

JUÍZO

(Clique na imagem para ampliá-la e na legenda, para acessar informações sobre o artista)

As almas estão gordas, obesas,
mórbidas com seus 380kg,
prostradas nas bancadas pentecostais.
O banquete pago a dízimos
dizima fígados, entope as artérias,
ulcera os estômagos das almas,
que cagam dezessete vezes por dia
não pelo reto, obstruído de medo,
mas na mais imunda, abjeta e vociferante
coprolalia.

No céu — posta a imobilidade, lá chegam caindo —
dessas almonas brancas, espessas, celulíticas,
há um Deus ocre ainda mais gordo e suíno,
exsudando adiposidades neoliberais,
meritocratizando em sentenças:
“merecei!, tomai e comei, pois, da minha carne”.
No inferno, estão os outros; ele, não.
Não há diabo cá.
O inferno é feito de diferenças,
cada alma com sua exclusividade:
almas rosa, vermelhas, marrons e negras,
meias-almas,
almas secas, divergentes.
Todas refugiadas.
De cá, esperam por um juízo,
ainda que supremo, ainda que mundano,
ainda que final,
um juízo que desnivele os baixios desse novo céu
que se abriu nas profundezas
e que tudo traga como um vórtice,
na ferocidade do bem dos novos homens.

21/10/18

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