Tens uns quereres de lua
quando não te és.
E, quando és,
és a lua que quero.
Tens uma voz de vento
e uma fala de riacho
que me navega as margens ao mar,
que não é mais
que tu, plena, farta, cheia de ti.
Tens essa coisa toda,
essa onipresença!
Tens esses cabelos de dilúvio
que me fazem único
— um Noé perdido,
naufragado no teu Mundo Novo.
Tens um pássaro canoro
que diz teu nome de manhã
no beiral de minha janela.
Tens esse jeito
de fazer-te em mim,
violentando-me, engravidando-me
de ti inteira.
Tens esse sorriso
que me desmancha o ódio,
que, submetendo-se, subjuga-me.
Ah, como odeio o teu sorriso,
sem o qual nada que não és
faz sentido.
Tens essa roupa de mulher ausente
que mal te toca,
enevoando-te no meio do concreto
das pessoas ordinárias.
Tens esses pés e essas mãos
de caminhar sonhos e tecer almas.
Tosaste a minha,
e é feito dela esse vestido de alças
que mal te toca.
Tens-me inteiro
e, ainda assim,
despedaças-me,
rateias-me,
até que eu, estrela enorme,
sinta-me grão de pó
perdido em teu lençol.
Tens um não estar
que, quando estás,
sou.
E, com não ser-te,
com não ter-te,
acabo sendo a tua presença
que nunca me deste,
porquanto nunca a tiveste.
31/07/2010
2 comentários:
Fernando, tu não cansa de ser exageradamente encantador nas tuas palavras não?
Tá um absurdo isso.
q intenso. eu ia até colar a minha passagem favorita, mas eu n consegui escolhê-la.
eu vou roubar esse poema pra mim.
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