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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

GRITAR

“Lutar com as palavras é a luta mais vã.
(…) São muitas; eu, pouco.”

Gritar. Gritar como a pedra.
Como a terra, com a semente.
Gritar além
do que já sonhara
Deus os homens.
Gritar todas as palavras
esquálidas e moribundas,
as que não mais se imaginam
além do sussurro fúnebre dos dicionários.
Gritar os pobres da terra,
cujos nomes, ainda mais pobres, morrem desinventados
nas bocas escorbúticas como um lamento miserável,
desculpando-se por existir.
Gritar a criança muda de alma muda,
apavorada de estupros,
retinta de hematomas,
desabitada em si como uma casa de portas e janelas arrombadas
por onde tudo passa como um vento quente de mormaço.
Gritar a pedra da alma do homem,
que o homem tem gretas assombradas
por magmas infernais.
Gritar a terra, que ela é grito
na carne das árvores,
no fluxo das ondas,
na revolta do mar.
Gritar como se não houvesse
quem mais gritasse.

12/09/10

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