(Clique na imagem para ampliá-la e na legenda, para acessar a página de origem.)
a fogueira invisível
traz as chamas multicoloridas
flameja ocra e vermelha
pungindo ardor
na íris vária e escancarada
porém
a grande noite é a todos
espetáculo melhor que o incêndio
e a estrela distantina
deu de sequestrar todos os olhos
ascendem nela sublimíssimos
desatmosferizam-se purificados
projetam-se na matéria escura
para longe do mundano
e do escrutínio terrenal
que a pele inquere ao cérebro
a todo o tempo
— olha! que é?
a fogueira invisível
coitadinha
não tem quem lhe sente ao redor
e lhe asse estórias
não tem quem lhe sinta o calor
não tem quem se lhe sirva na pele
nem quem lhe ceda o frio
em sacrifício
queima e arde
inexistente na noite enorme
ignota na transcendência dos corpos
e inútil para o além insensível das almas
mas há no chão
e há no lenho e no fumo
e no ar dos mosquitos
há pequena
na noite pequena
das coisas pequenas
a fogueira invisível
compõe com o mato inútil
com a árvore macha, a pedra de seixo
com as cigarras e os grilos
a multitude das ausências
que permite às coisas inúteis
a inutilidade de serem belas
e o desgosto orgulhoso
de existirem sujas
e puras
07/07/24