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sexta-feira, 12 de junho de 2020

TOLERÂNCIA


    Sempre odiei o verbo “tolerar”. Oriundo do latim tolěrare (suportar, aguentar), e este, do tollere (levantar), o verbo “tolerar” sobrecarrega o seu objeto direto com a semântica odiosa do erro, da incorreção, da ausência de enquadramento, e o seu sujeito, com a perigosíssima posição de juiz paternalista detentor do poder da “tolerância”, substantivo ainda pior que o verbo. Essas palavras são exemplos tanto da hipocrisia quanto dos preconceitos estruturados na língua e, consequentemente, na cultura (pois a primeira antecede a segunda como causa desta). Pessoas, sexualidades, religiões, etnias, culturas não devem ser “toleradas”, mas sim legitimadas como soberanas em suas singularidades. Somente assim, na pluralidade legítima, poderá haver um legítimo Estado democrático de direito, pois o “tolerante” nada mais é do que um hipócrita com uma casa cheia de tapetes sob os quais apodrecem os esqueletos de seus preconceitos.

09/06/20

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