Ando cansado de porcelanas.
Sei que são lindas, brancas, imaculadas
e delicadas ao toque
e aos acidentes.
Mas, ando mesmo é com saudade do barro de louça
que se romantiza entre meus dedos dos pés
encharcados de uma chuva de infância
num interior de terra branca, fina,
de bichos-de-pé coçados gostoso
em amores de rede e varanda.
Não quero mais chás,
nunca gostei de chá!
Menos ainda, os calmantes.
Anda-me a vida já muito lassa, amofinada.
Sinto saudades do café forte de minha mãe
servido na caneca de aço,
em cujo fundo havia timbrado o nome da Santa Casa de Misericórdia;
que pertencia a meu pai
e cuja história desconheço...
Não quero mais as louçanias de namoricos vestidos de branco!
Quero mesmo é me sujar na lama boa
na lama cor de terra, cor de mim,
na lama faceira e escorrente de um quintal
onde já estive outrora,
quando fui terra brava, batida e pisada
de bichos de sertão,
terra aquela que conheceu chuva de renascimento
e me germinou
em manhãs de casamento de raposa.
22\08\12

Este blogue se destina ao uso artístico da linguagem e a quaisquer comentários e reflexões sobre esta que é a maior necessidade humana: a comunicação. Sejam todos bem-vindos, participantes ou apenas curiosos (a curiosidade e a necessidade são os principais geradores da evolução). A casa está aberta.
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
DESCARTE
(Ao meu querido Paulo Mosânio Duarte, para sempre, meu professor das coisas que realmente importam)
Se o que somos é bom, sejamo-lo;
ao menos, não somos “os outros”!
“Os outros” que assim o sejam,
que disso se gabem,
que com isso se enrolem na solidão noturna de suas almas!
A alma de quem É a si próprio
brilha da cor que quer,
e se destaca no céu das estrelas ordinárias,
que só piscam, patetas, embasbacadas, esquecíveis.
Quem brilha o que É norteia quem tem olhos de enxergar
e não queima em vão,
e nunca está só.
22\08\12
OSSOS ENTERRADOS
Plutão
À medida que decrescia a energia dele, vimos nos adaptando.
Hoje, somos ambos velhinhos:
ele, de corpo e músculos gastos,
porém de alma cintilante;
eu... bom, eu, descobrindo na minha alminha velha
nesgas de bons e velhos ossos enterrados.
24/07/12
terça-feira, 14 de agosto de 2012
ARREMESSO
Voar
não é nada
além de administrar uma queda
entre dois abismos
depois de um arremesso
imemorial
feito de fantasmas de vontades passadas
a ferro e fogo
cujas cicatrizes nos alam
e nos sustentam
sobre os labirintos.
14\08\12
FACE THE MUSIC
Há coisas que gritam alto demais
— não se está nunca pronto para ouvi-las.
Silêncios doem muito mais
que o que gesta os gritos
e, ainda que doam escondidos,
revelam-se em fantasmas de coisas que se escondem por trás
das paredes, das pessoas,
das alamedas das avenidas,
coisas que se vestem de todas as impossibilidades deste mundo
e nos encaram.
14\08\12
INFINITIVO PESSOAL
— É preciso teres coragem e correres riscos se quiseres amar.
(não sabia ela que eu mais nunca os correria
depois que seu olhar de náufraga me houve ancorado,
e eu, que sempre fui cais, aportei)
14\08\12
Assinar:
Postagens (Atom)