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terça-feira, 23 de maio de 2017

MÉMOIRE


Todos que amei e perderam seus nomes
Nas curvas dos ônibus, na cachoeira das horas,
Por favor, perdoem-me.
Em meu coração, existem mais sentimentos que pessoas,
E todas viraram impressões, instantes de cores e formas e cheiros
Que me assomam no emaranhado do tempo.
Não as recordo; sou-as.
Suas vidas em minhas horas, nossas histórias num mémoire,
Um patuá de cabelo e sal
Que me protege de me esquecer de mim.
Sou todos conquanto me seja, às vezes, ignorado,
Pois ser é mosaico de encaixe com peças que sempre faltam.
Se me falto, sobram-me; sou mais o que transborda
Que o que o copo serve.
Só sou leve se sobejo;
Se me sou só, peso.
Perdoem-me minha lembrança tê-los feito circunstâncias.
É que sou perene e breve,
A eternidade temporã que sempre já se vai
E não tem nunca tempo que ceder:
Só trago combustível para a ida.
Não levo passageiros. Não dou carona. Viajo só.
Contudo, no meu rádio, são vocês que tocam,
E eu os assobio à noite sob as estrelas
Mesmo sem lhes lembrar os nomes.

15/05/17 

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