Gris,
adjetivo sem gênero ou número, base de outro adjetivo (grisalho), significa
cinza, opacento, envelhecido. O dia já estava velho às cinco e meia, quando um
som antigo dentro dum sonho de desertos e areia me acordou antes que o
despertador tocasse. Vesti roupas velhas, encaixotei-me com elas. A cidade aqui
fora é velha, os ônibus são velhos, a estrada para o interior e este mesmo são
velhos. Somente a chuva, que chumba o mundo e enche de impossibilidades a vida,
é jovem, jovem como um deus que acabara de se revelar em dilúvios recriadores,
como um demônio insurgente na multidão, como uma gigantesca sombra deitada por
um sol covarde. Tudo o mais é velho, mais grisalho, menos vivo. Envelhecer é proteger-se
inutilmente dessa chuva-deus-diabo, dessa sombra, pois é aqui dentro, nos
desertos sem gentes, nos campos de cinzas, nas cidades destruídas do que antes
fomos, que ela cai e enlameia as veias de uma saudade, de uma inevitável
maniconia, de uma paixão sem chagas. Ficar velho é apodrecerem-se sob a chuva, enjaulados
em treliças de arame, o tronco e os galhos que, ironicamente, vestem-se do limo
mais verde e mais jovem de que jamais se ouvira falar.
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