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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
INVERNO EM QUATRO PARTES
I
Elas estão lá, as nervuras negras no asfalto
pela chuva que rasteja
agora não mais divinal
agora leptospirótica
assim como ainda aqui o agora rastejante amor
— o outrora providencial cadente de um céu benfazejo
que, sem embargo, com trovões, bradara anunciando
aos quatro cantos
desesperada e retumbantemente:
dor!
II
O coração do homem, quando calmo, é como o homem:
não conhece a humanidade.
Quando acuado, retraído,
contrai-se brutamente como um bicho
— uma ratazana de esgoto em seu ninho com sua cria sem pelos —:
mostra os dentes
e se atira à morte com um grito agônico
que lhe preenche o buraco onde antes lhe houve a alma.
III
Debaixo da mesa,
posta a ceia: sapatos e meias desencontrados
que conversam como condenados
a história da rua
e de seus homens.
IV
Esta chuva é para nós
quando éramos crianças.
Deus,
por que não choveste mais cedo
quando ainda tínhamos tempo de limpar melhor as almas nas calhas
antes das desoladoras horas de desesperação?
14/02/11 03h22min
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