
Este blogue se destina ao uso artístico da linguagem e a quaisquer comentários e reflexões sobre esta que é a maior necessidade humana: a comunicação. Sejam todos bem-vindos, participantes ou apenas curiosos (a curiosidade e a necessidade são os principais geradores da evolução). A casa está aberta.
terça-feira, 28 de março de 2017
A JANELA DO ITINERÁRIO
A primeira gota da goteira
A menina do reflexo na vidraça suja
O rosto zefirino
O sorriso púrpura na banguela caetânica
A pintura velha na parede patinada
O excesso de tudo
A escapatória pela música escapadiça
A captura das ausências pelas fotos publicitárias
A malha suspensa de fios
A trama
A simpatia bêbada na miséria alheia
Galhos árvores folhas mortas asfalto
O assalto
O progresso
A progressão das colmeias
As colônias
As rinhas e as rainhas indelicadas
Onde está Clarice neste mundo de Madonnas virgens?
Os utilitários fora de estrada
Os postos de gasolina
Os penteados clônicos
Os desindivíduos
As impessoalidades egoísticas
— um mendigo limpo —
A máquina triunfal pessoana gggggggirrrrrrrrando
É só mais um moinho cervântico
— prisão aos loucos que nos recontam —
O carro-forte
A escopeta de chinelas Havaianas
As palmeiras imperiais
As sobras de Alcântaras e Bourbons
Os sobejos nas calçadas
Deus
O antagonismo cristão
Os vendedores de balas
Os tiros verbais
A morte travestida
Bancos
As alamedas gardênicas de flores de lixo
A verticalização babélica
A monoglose
A incompreensibilidade
A aula de Português
08/03/17
MAIS QUE PERFEITA
Foto: Talita Laila
(Para Talita Laila, aquela que mudou tudo)
Era uma mulher cheia
A pele estalando como a casca rosamarelada de uma manga-jasmim
O desde que a vira virara um desde sempre desses de infância
E a novidade de tudo acostumou-se a mim e à treva do desconhecido
Então, já não fui, já não era, já não fora:
Virara um todo presente, e meu tempo passou a chamar-se e a mim de JÁ.
O cais sertanejo donde partira meu barquinho
— uma nave desonesta, ignorante das estrelas
porém por elas metida em viagens espaciais —
Viu pela primeira vez o cheiro salgado da onda
E entendeu-se alcançado por uma viagem inédita:
Seria, enfim, ponto de partida
Quando já se tornara expedições
Essa mulher, o meu mais que perfeito presente,
Conjugou meus verbos
Interpretou meus sentidos
Intercalou-se em minha sintaxe
E me reescreveu
Como uma manga altera para sempre o paladar
De quem nunca deixou de ter doze anos.
17/02/17
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