
Este blogue se destina ao uso artístico da linguagem e a quaisquer comentários e reflexões sobre esta que é a maior necessidade humana: a comunicação. Sejam todos bem-vindos, participantes ou apenas curiosos (a curiosidade e a necessidade são os principais geradores da evolução). A casa está aberta.
domingo, 29 de março de 2015
PERNOITE
Os olhos da noite são amarelos.
Bile celeste, mijo de gato,
Bico aberto de bacurau.
Reza na esquina a hora torta:
“Dobrai, que aqui te dobro.”
E dobramos.
Fingem almas fugindo os cães,
E fugimos, por desatentos de nós,
Escorridos na gota amarga e cadente
Que sobe às telhas e gane baixinho
A rima exata da solidão:
“Lua…”
29\03\15
quinta-feira, 26 de março de 2015
VOYEUSE
(Para Mariana Nascimento, voyeuse urbana e dona de olhos que regam olhos)
O artista, baby, sofre de uma maledibênção
que lhe deixa vulneráveis os olhos
àquilo a que os outros olhos são cegos,
e está fadado a passar a vida
regando com sua arte
o agreste de todos os olhos do mundo.
Justo ele, que irrompeu da mais improvável castanha
e vingou-se cajueiro de terra seca,
justo ele, que bebe o pó dos nitratos,
que escava a escuridão com unhas de raiz,
é a quem cabe dar o caju mais doce,
caju que deita o sangue arrancado do sertão
na boca insossa e cega que sequer sabe
o gosto amarelo da luz e o cheiro vermelho do sol.
O artista é uma lágrima que arde sal,
mas chora chuva,
e deixa a vida viver nos olhos dos outros
as flores que só ele vê.
Assim, baby, é que devem ser os seus olhos:
voyeurs que dispam as ruas, os gatos, as gentes
e redigam-nos com as roupas de ruivos ornatos
e rendas brancas
que são a sua própria pele, que o chão fez casca
e que veste a seiva que lhe enche os frutos.
Assim, quando eles olharem,
a objetiva será como uma bandeja oferecida de cajus,
doces e agrestes como convém à carne
de qualquer arte que trague o seu chão
e exulte-o em frutos.
26\03\15
que lhe deixa vulneráveis os olhos
àquilo a que os outros olhos são cegos,
e está fadado a passar a vida
regando com sua arte
o agreste de todos os olhos do mundo.
Justo ele, que irrompeu da mais improvável castanha
e vingou-se cajueiro de terra seca,
justo ele, que bebe o pó dos nitratos,
que escava a escuridão com unhas de raiz,
é a quem cabe dar o caju mais doce,
caju que deita o sangue arrancado do sertão
na boca insossa e cega que sequer sabe
o gosto amarelo da luz e o cheiro vermelho do sol.
O artista é uma lágrima que arde sal,
mas chora chuva,
e deixa a vida viver nos olhos dos outros
as flores que só ele vê.
Assim, baby, é que devem ser os seus olhos:
voyeurs que dispam as ruas, os gatos, as gentes
e redigam-nos com as roupas de ruivos ornatos
e rendas brancas
que são a sua própria pele, que o chão fez casca
e que veste a seiva que lhe enche os frutos.
Assim, quando eles olharem,
a objetiva será como uma bandeja oferecida de cajus,
doces e agrestes como convém à carne
de qualquer arte que trague o seu chão
e exulte-o em frutos.
26\03\15
domingo, 22 de março de 2015
DOMINGUINHO
Vou deixar a manhã deste domingo
Me amanhecer devagarinho,
Que hoje eu não tenho pressa de nada
Nem nada me espera no caminho.
Hoje eu começo como um dia
Que se esqueceu na memória:
Estou à disposição do acaso
E da ausência do tempo e das coisas.
22\03\15
Me amanhecer devagarinho,
Que hoje eu não tenho pressa de nada
Nem nada me espera no caminho.
Hoje eu começo como um dia
Que se esqueceu na memória:
Estou à disposição do acaso
E da ausência do tempo e das coisas.
22\03\15
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