Este blogue se destina ao uso artístico da linguagem e a quaisquer comentários e reflexões sobre esta que é a maior necessidade humana: a comunicação. Sejam todos bem-vindos, participantes ou apenas curiosos (a curiosidade e a necessidade são os principais geradores da evolução). A casa está aberta.
There’s a wind that blows in from the north And it says that loving takes this course Come here Come here No, I’m not impossible to touch I have never wanted you so much Come here Come here Have I never laid down by your side Baby, let’s forget about this pride Come here Come here Well, I’m in no hurry You don’t have to run away this time I know you’re timid But it’s gonna be all right this time There’s a wind that blows in from the north And it says that loving takes this course Come here Come here
Existirá um céu onde não entre ninguém, exceto os distraídos?
Onde abram as portas crianças sujinhas, vestidas de anjo, bocas-sujas, molecas, originais? Onde aos originais não seja requerida mudança, exceto as naturais, que se dão sem que delas se dê conta?
Existirá um céu onde se adoeça, se envelheça e até se beire à morte só para que venham o cuidado fraternal e o amparo que faltaram? Existirá um céu onde se brigue, se arengue? Onde se estapeie um amigo, com quem depois se farão as pazes e se beberá junto numa amizade mais mundana que antes?
Existirá um céu onde durmam conosco nossas mulheres, e, com elas, seus homens, finalmente inteiros, não-divisíveis com empregos, desempregos, contas a pagar, inflações, prisões? Onde uma boa trepada seja o mais sagrado cântico do nome de Deus, conjurado das bocas gratas, extasiadas, pacificadas daqueles que, limpos pelo coito, viram-se libertos finalmente dos males do mundo nos braços dos anjos que escolheram?
Existirá um céu onde caibam igualmente as desavenças sem que desapareçam? Onde se bata a mão na mesa de um bar, orgulhoso de si, de seus credos, ideias e convicções, onde se pinte um quadro de um EU com pinturas tribais, armas e brasões, erguendo um flâmula onde se inscrevam todas as palavras que morreram sementes neste mundo? Haverá espaço em algum céu para as convicções que nos tornam distraídos, desatentos, transeuntes de uma vida que nos observa como feras à espreita?
Existirá um céu que seja suficientemente divino para comportar o homem?
Morrer e nascer de novo são a minha especialidade. Sempre gostei de tempestades. E as temi. Mas nunca disse ao mar: SECA!; nem, ao vento: ESTANCA!; tampouco, à chuva: ESTIA! Sempre tive um quê de náufrago… Sem pátria, desterrado, como Lilith e Caim, e ainda à espera da epifania de meus crimes.
E tem chovido! E estiado… Sem que eu desejasse um ou pedisse outro. Aqui, só me restam perguntas: prosseguirei?, resistirei? Resistir é verbo de que não sou dono: acontece, e eu sofro, mas sem que possa dizer que padeço. Padecer seria como dizer à vida: fazes-me mal!, e a vida é só a vida, é só o jeito de Deus nos lembrar que há.
Mas parece-me mais. Parecem-me as tempestades ser a maneira que Deus tem de dizer-Se-me: Pai…; e sobreviver-lhes é o meu modo humano, arrogante, escroto, de gritar-me-Lhe: FILHO!, porque, assim, oro, rezo e louvo, e acredito — só assim acredito — merecer-Lhe ser imagem e semelhança.