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domingo, 6 de dezembro de 2015

É UMA NOITE QUENTE

É uma noite quente, e tem sido quente por toda parte.
Um ar salgado se precipita narina adentro
Como se eu respirasse um mar que me afogasse
E me mantivesse vivo ao mesmo tempo.
A noite é grande.
Meu corpo parece estar incrustado nela,
Engastado como uma pedra velha numa coroa de lata
Que já me distinguiu entre os homens que imaginava.
Depois de haver reinado, colhi meu corpo do chão da casa
E crucifiquei-o no cetro com que benzi em meu próprio nome
A religião que professei.
Mas chega de liturgias!
Não há nada de sagrado em funerais.
Deixem que o féretro leve o que não é mais útil à ilusão
De que a vida é algo mais.
A vida é só esta noite quente e grande,
Dentro da qual resto e respiro um mar
Que me afoga e me nutre
Sem que haja pacto algum com a manhã que se aproxima.
Vejo pessoas todos os dias
Engavetadas dentro de ônibus, carros, compartimentos móveis,
Indo e vindo pelas prateleiras da cidade.
Em seus olhos, procuro como se eu mesmo tivesse perdido
A faísca da divindade essencial dentro dos homens.
Olhando para mim, estatela-se como um corpo caído no chão de um edifício,
Como um pombo abatido por um fio elétrico,
A pergunta:
— Quem te convidou?

06/12/15

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