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segunda-feira, 15 de julho de 2013

DEPOIS DO DESENCANTO


Quando eu era menino
Tinha um sonho maluco
De achar assunto
Ser piloto de avião.

Queria ser de tudo:
Bombeiro, roqueiro, fazendeiro
Professor e cientista
E super-herói nas horas vagas.

Quando eu era menino
Uma hora o mundo era
Um estado pleno de alegria;
Outra, todo negro e morto

Em cinzas.

Hoje me entendo adulto
(Pobre de mim)
Ganhei ares de escritor
E insígnias de amante.

Vejo a vida racionalmente
Subtraio o joio do joio
E sem me exasperar
Me resigno à inutilidade dos dias.

Em virtude de certas dores da vida
Me tornei mineral
Na esperança de um dia
Me esconder do fim do mundo.

Quando eu era menino
Havia mágica em pedriscas
E todo o segredo da vida
Morava numa concha de praia.

Tudo era cheio de segredos
E de caminhos escondidos.
Tudo era intocável, inalcançável
À mão malvada que pudesse deturpar.

Hoje eu perdi a minha fé
Mais nas coisas que nas pessoas
(Porque as coisas não tiveram infância
Porque as coisas não mudam jamais)

— Exceto no balançador do parquinho:
Este continua invariavelmente
Medicando todos do mal
E nos aproximando do céu

Que ainda é feito de sonho e de estrelas.

10/04/00

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