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segunda-feira, 25 de março de 2013

DENTRO DA NOITE


Noite afora, as horas rezam caladas nos ponteiros e na alma.
Quando o sono vence o combate, o corpo, esgueirado entre a noite já ida,
sussurra e se rende sossegado, lânguido, suspirado.

No céu, ainda alguns vultos e estrelas. Tu contas as que caem.
Ao meu lado, partículas da noite ainda gemem e suam e se dobram e se unem
onde, há pouco, houve inteira essa mesma noite.

Se estico o braço, ainda toco e sinto o calor que nela deixamos.
Em teu seio, mora aconchegado o som morno do nosso cansaço.

Em teu olhar — esse olhar de gengibre, tão vivo e tão terno —,
estampa-se a entrega do meu:
um beijo que continua o beijo,
ao que me cobre a nudez com que teu olhar me despe.

Em minha boca, o teu gosto doce, amargo, salgado, forte, renitente.
E, nela, ainda um mesmo beijo continua o beijo dado.

Dentro dessa noite, fizemos nascer um calor solar
que aquece todo o espaço frio entre nós e as tantas outras estrelas
que, em suas constelações, observam-nos placidamente adormecer.

E raiam como nós.
E brilham como nós.

03/08/02

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