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quinta-feira, 9 de junho de 2016

HISTO

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(Para Miguel Hermano, meu filho, que, em meus sonhos, me sonhou)

 
Não demorei tanto tempo para escrever.
Venho escrevendo.
Sem tinta, papel, teclado, bits, impulsos mecânicos nem elétricos.
Venho escrevendo com meu corpo, minhas mãos, com minhas reações químicas,
Meus passos e meu cansaço, minha tão alterada pulsação,
Venho escrevendo.
Um romance.
Uma estória, uma historieta, uma estorietinha, porém um histo.
Um isto com agá: histo!
Histo, aportuguesamento meu do morfema grego histós,
Porque é histo que quero que seja: o que for, vertical.
Lagos são horizontais em sua placidez, e mesmo o mar, em suas revoltas.
A chuva, meu filho, a chuva é vertical!
Uma chuva de levitação, uma chuva que chova de volta às nuvens o mar que me fizeram.
Talvez venha escrevendo como quem acumula.
As letras atulhando-se, palavras potencializando-se em diques,
Um inchar-se de verbetes esperando a ascensão.
Devagarzinho, gotas e imensos amorfos líquidos efluindo-se baixinho,
Mais confessos que infensos, em direção às alturas.
Minha estorietinha, que vem de tão longe, galgou suas primeiras palavrinhas
Desde há muito, contando-se, contando-se…
Enumerando-se.
Meu romance vai muito bem, obrigado.
Seu primeiro tomo sai dentro de três semanas.
O resto, dizem, escreve-se sozinho.
Sozinho, sempre; sozinho, nunca!
A água, meu filho, é incontável.

09/06/16