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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

DESDE SEMPRE


Quando nasci, meu corpo me bastava.
Era meu país e minha fronteira.
Cresci, e meus limites me exportaram
— imigrei ilegalmente para muitas terras,
donde eu mesmo me expulsei.
Com a idade, entendi que esta sensação
de não caber
tão bem me cabia que virei um expatriado sem bandeiras,
um retirante sem sertão.
Mal sabia eu que essa estrada que sempre se me abria
era nada mais que o maior pedaço de mim
que deixou para nascer depois,
uma voz de que me descobri eco,
a corda cuja vibração me soou.
Para onde vou agora, finalmente, ficou claro.
Desde sempre, meu amor, eu te quis
e te montei célula a célula num passado-futuro que agora está aqui.
Tu és mais que pode dizer o meu sangue.
Quando te mexeste, eu me assustei;
quando teu forte coração ribombou na sala escura, eu sorri.
Quando te vi em preto e branco, como num filme antigo, mudo,
eu me acalmei.
Não tenho um mundo grande para te dar como a mim me deram.
Tampouco, a força de quem me fez.
Mas o que tenho, filhinho, dentro deste coração grosso,
posto nestas mãos fortes,
é o homem que preparei para ti,
para tomar da tua mão e te levar para o que fores.
Eu sou a tua estrada, Miguel Hermano, calçada pedra a pedra
pelas tuas mãozinhas, que ainda nem nasceram.
O destino — dirão — é uma incógnita.
Porém, o teu é ser feliz,
e isto, meu filho, quem diz sou eu, o teu pai.

28/12/15

Um comentário:

Unknown disse...

há muito tempo não lia tuas palavras, poesia... fiquei feliz em reabrir teu blog e encontrá-lo ativo e cheio de beleza no silencio entre as palavras. Saudades querido Professor!!! Abraço, Alana Loiola.