De tanto existir, eis o mundo:
teu espaço preso entre as hastes dos óculos.
Não vingou; não espasmou e morreu; não fugiu.
Fingiu, contudo.
Nele, cresceram coisas que não vistes:
árvores e gentes sem ti.
E tudo que foi sem ti vingou, fugiu, espasmou e morreu; só não fingiu.
Por isso, não soubeste do mundo, do verdadeiro mundo,
livre, fugidio
e inchado, pleno, repleto da ausência de ti:
tudo que não foste te espreita
porque, somente sem ti, existe
e perde-se.
Ao teu redor, amontam sinais, pegadas:
um vestido vermelho, um salto espacate,
todos desaparecidos quando chegaste.
Ali houve um tropel; mais lá, pés macios.
Tudo, rastros de um presente entalhado no chão,
marcas de um tempo agora,
embora pretérito sempre para ti,
sempre quando estás.
De tanto existir, o teu mundo vítreo e opacento
escondeu-te tudo
que sempre estivera lá, à espreita,
a ver se o verias, finalmente.
06\06\15
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