Número de sílabas (desde 11/2008)

counter

domingo, 9 de março de 2014

DEIXA EU IR DEVAGARINHO


Deixa eu ir devagarinho
Que eu quero só ver
De mansinho
As coisas irem de mim
De onde estive
De quem eu fui
Para os braços de quem me teve
Para os olhos que me choraram
E descerem pelas bocas
Que me negaram adeuses.

Deixa eu ir bem de mansinho
Que uma moça paciente me espera
Nas curvas adiante
Que nem sequer não foram ainda
Dobradas nos sinos
Badaladas nas horas
Curvadas nas raias
Desses raios de sol
Que pastam preguiças de verão.

Deixa eu ir quietinho
Que tanto já se grita: vive!
Acorda! Corre! Cresce!
E eu já nem sei mais ser menino
Desses de três horas da tarde
Quando ainda não é tardinha
E se tem tanto o que fazer.

No meio das horas, nas antessalas do agora
Armo uma rede macunaímica e verde
E durmo a impossibilidade do instante
Que a todos chama!
— Vou mais tarde. Não me esperem.

Que eu quero sentar no pôr do sol
Que nasce em algum lugar:
É manhã na terra que me espera.

Deixa eu ir sozinho
Que lá não se entra de dois
Porque dois não é bom; é muito
Para caberem um coração
E todas as suas avenidas e ruas e favelas
Lotadas de batentes
Coisas que bateram sabe-se lá quando
E não encontraram senão eco
No oco da jaula do peito.

O peito é enorme
Mas mais enorme ainda é a carne que o peito veste
É o pé que leva o peito ao espraiado
Cheio de vento e de ondas
Onde não há eco
E se pode enfim dormir.

09/03/14

Nenhum comentário: