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domingo, 22 de setembro de 2013

CAFÉ DA MANHÃ


Onde quer que eu não exista
deve haver algo, uma luz, uma sombra,
uma dança de moscas diferente na rotina,
um não-estar cheio de beleza,
uma água clara, uma moça morena
que nunca souberam do quanto eu os amo
dolorosamente.

Se eu me perdesse, se eu desexistisse,
será que haveria um meio, uma chance
de sentarmos todos ao redor da mesa,
leves, limpos, novos,
e conversarmos entre risos, sempre, sempre,
sobre o quanto fomos tão distantemente
infelizes?

22/09/13

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

ENCONTROS


Gosto do verbo “encontrar”.
Um dia, eu ando pelo corredor e encontro uma sombra nova
à qual nunca tinha posto reparo: irreparável.
E o encontro dos olhos com outros olhos?
É um dar-se de encontro nu, objeto de voyeur

Porém, eu me encontro vestido demais, desencontrado de encontros…
Nos cafés de gentes e barulhos, espero pela inesperável:
aquela que me ache encontrável, achável, impassível de impasses,
sentado, capuccino pela metade, vida já meio entornada…
Uma vida de esperas nos interlúdios entre sessões
de cinema;
de seminários;
de fotos;
e de insônias.
Uma vida não é o bastante:
é alguém que se encontra num adeus;
é a beleza do dia que só se mostra no mênstruo às portas da noite;
é o lembrar-se do sorrir rabiscado num espelho banguela;
é descobrir-se que se ama somente após o primeiro infarto.

Mas tem de ser aquela que me encontre mesmo,
como se encontram duas crianças de três anos:
definitiva e univocamente,
porque, convenhamos, nada pior que meios encontros…

Vai um par padrão de apaixonados:
mãos dadas, rostos miméticos,
corpos uniformizados
com os brasões e dólmãs vermelho-dourados da juventude do amor.
Qual dos dois sabe do outro o porquê de se estar vivo?
Qual não se acomodou com a superfície das águas
e mergulhou fundo na ausência da luz, do sol e das cores
e foi dormir no verdadeiro leito,
na escuridão onde dorme tudo aquilo que o outro
não pôde ser?
Quem pendeu tanto na corda bamba da memória
que se perdeu de si para encontrar no escuro
a única mão?

Também me encanta “ver navios”…
Aprende-se muito vendo navios.
Todos a bordo, vento no pano e no cabelo,
um mundo de sal dando sabor a um outro mundo,
e um mundo no meio para se aventurarem.
Contudo, fico na praia;
os pés, bem atracados na areia;
os olhos, cheios de adeuses.
Como um coqueiro que mais parece balançar o vento
e conhece dentro de si uma água que encontrou menina,
enterrada e esquecida, perdida, desmontada,
que nunca nadou no mar,
mas é doce,
passageira e nave de si mesma,
numa viagem bem maior.

09/09/13