Uma tela me disse, cheia de desejo:
“Me preenche…”
E eu me esvaziei.
Não lhe pude negar.
Dei-me a ela sem ressalvas, sem
restrições, sem limites,
e nela estava eu todo,
derramado em ocres, cinza e turquesa,
transfigurado num noturno,
num cheiro de café, numa marchinha
antiga
de carnaval.
Fora de mim, existindo, materializado
num espelho imutável.
Tanto engano…
No oco das vozes caladas,
no vazio ácido do estômago
de onde me extirpara,
lá estava eu, sorrindo triste no canto
da boca.
Estava lá como realmente e sempre havia
sido.
Sem as cores, sem os cheiros e os sons,
como sempre fui:
o vulto sentado no escuro,
esperando.
Nu de pele, músculos, ossos, órgãos,
sangue:
uma saudade sem nenhuma alma
que lhe atrapalhasse ser.
23/04/13
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