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terça-feira, 6 de novembro de 2012

DO QUE FOI EMBORA


(Para Carmélia Maria Aragão, que é outra de minhas saudades de retrato)

De ti tenho dessas saudades de retrato.
Um eu-menino que a vida pegou para criar
e criou à custa de metáforas.
Tu querias ser mineiro,
querias ser das pedras, do vento e do mar,
mas só foste terra, dessa terra onde um se deita semente
e não tem vontade de nascer.
Tenho tantas saudades de ti.
Dos teus tantos nascimentos.
Da tua esfinge indígena na face.
Das tuas cicatrizes-distintivo.
Da tua alma velha.
Quê de tuas pinturas? Onde foram parar os teus dois livros?
E os teus tesouros animados, cadê?
Tua história é o meu retrato, mas não é a foto.
É o cromo que se perdeu, mas se faz saber no monocromático do vermelho-telha.
É a cor que me roubaram do sorriso, do olho, do espírito.
Tua história, eu-menino, ficou no ar, no zingue de uma pedra de baladeira
que nunca matou ninguém
e por isso se perdeu.

06/11/12

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