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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

KABUKI


Sei que errei.
Sei que são minhas as tuas vontades
e que não dizes sozinha de ti.
Sei que tua roupa me reflete,
que teu paladar me saboreia
e que tua noite tem a minha cor.
Onde estive, quando te perdeste?
Eu, centrado, esclarecido… Eu, senhor.
Tu…
Tu te largaste. Saltaste cega em meu cavalo
e cega foste a um dia de faca
que te arrancaria os olhos,
esses olhos de kabuki
Vidrados no além do amor, no que não é amor:
no que é a terra do horizonte desgraçado dos náufragos,
no que é a conjuração da água ilusória do deserto.
Onde estive, que não te estapeei a cara
para acordar-te?
Meus afagos te fizeram mais mal que uma boa surra!
Ou que a mim me dessem uma boa surra,
e eu, estropiado, diante de ti, fizesse-me eu,
o eu que te comeu os sonhos e arrotou bufando,
de mão na boca, contido, entediado,
este eu que te rasgou inteira
sem que reclamasses, sem que te desses conta,
com os talheres baratos dos almoços de domingo,
sobre a mesa amarela,
a carne perfumada, o arroz fragrante…
Quando, adorada, quando foi que te perdeste
sem que eu junto contigo me achasse?
Onde estive, quando estiveste linda,
inteira, entregue, totalmente minha?
Onde estive, quando te perdi?

05/09/12

Um comentário:

Crisneive Silveira disse...

E foi ele quem se perdeu dela. Daquele que nunca saiu de perto dele.