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segunda-feira, 19 de março de 2012

HIPERTROFIA


Lucas Zoltowski - Broken Heart

Não parece.
Mas perece.



19/03/12

sábado, 17 de março de 2012

BOM CONSELHO


A esperança é a primeira a morrer. Em seguida, vai a fé.
Por isso, amigo, a ser alguma coisa, seja teimoso.
A teimosia, sim, é mais importante que as duas juntas.
Como é humana e sanguínea, tem vida curta: morre junto com o homem — é terrenal; é mundana.
Não se alça em voos nem se esparrama em sonhos.
Porém, ao contrário dos anjos, dura a vida inteira do homem
e, nela, sobrevive a tudo, principalmente à ausência das asas da fé
e à nudez subjacente ao perecimento da alma,
quando, da esperança, desnuda-lhe a vida-morte,
essa que brota nas sombras das cruzes
e nos olhos vermelho-hipnóticos das luzes de semáforos.

17/03/12

quarta-feira, 14 de março de 2012

CONSIDERAÇÃO DAS ROSAS


Em que arte reside o espanto da flor
Que se despetala sem sol e sem vento,
Sem passo de dança, sem timbre, sem rendez-vous,
Sem aurora, sem amor, sem alento, sem platéia?
Em que se pinta a morte que ninguém vê e que ninguém sente
Da rosa na sua obscuridade?
Não na moldura da tarde, não na tela encarnada de um amor arraigado,
Não na lembrança renitente de uma outra, tão distante, noite.
A rosa se esquece num chão que nem existe.
Um amor que se desenhara em suas pétalas
Na verdade não nunca chegou a ser, sempiternamente oculto, castrado, infértil.
Nada que se diga das outras rosas em versos, estrofes, livros, enciclopédias botânicas,
Arsênicas melodias às três horas da madrugada…
Nada mais se atribui à rosa.

Mas continua por aí
O seu Nome.

Nas rosas que, desesperadas, tentam lhe alcançar a divinal consistência da total entrega.
Nas outras rosas, nas outras.

30/12/05

MERGULHO

Michael Deutsch

Devemos sempre nos observar
Pelo menos uma vez por dia
Sob a ótica de um mergulho:
Aquele momento místico do homem-peixe,
Liberto de todas as suas naturezas.

14/03/12

domingo, 4 de março de 2012

LA VIDA DE MERCEDES

(A Natália Pinheiro, que lo compuso en diálogo conmigo. Gracias, mujer.)

Uno hay que resistir, aunque no tenga ganas, ni metas, tampoco quien se dé cuenta de ello. Hay que resistir porque no hay cosa más verdadera en la vida.

04/03/12

quinta-feira, 1 de março de 2012

DE VOLTA À IDADE MÉDIA

Nani

Apesar da escuridão, tudo nunca esteve tão às claras! Enquanto se espalham uma cegueira religiosa e um ódio contra tudo o que é diferente ao “fiel” (aspas gigantescas), políticos-pastores-padres-etc. são eleitos por suas congregações com a única finalidade de legitimar um Estado cego, opressor, vinculado à abstração dos dogmas religiosos e, por isso mesmo, essencialmente corrupto, visto que não governa pelo princípio da justiça laica.
É óbvio que isso não tem nada a ver com a fé. A fé existe inerentemente ao ser humano, mesmo aquele que diz não tê-la. Fé é a capacidade de crer no abstrato, no que é imperceptível aos sentidos naturais. Fé é a grande metáfora da vida. Mesmo os ateus têm-na, ainda que a tenham materializada, dissecada, logicamente embalada pelos braços da Ciência.
Não, meus caros. Isso tem a ver com a velha prática eleitoreira de desviar a atenção do povo a uma ameaça irreal, montar nessa suposta ameaça e levantar uma bandeira, um pavilhão de “defesa de Deus” contra o horror do “mundo”. Eles são o mundo. Nós somos o mundo. E o mundo, parecido ao que Darwin teorizou, pertence aos mais adaptados. No caso, aos mais “espertos”. Sim, pois é preciso alguma esperteza para entender o funcionamento da religião na mente das pessoas simples, das complexas, das alienadas e das militantes. Na cabeça do brasileiro, religião (as derivadas do Protestantismo, principalmente) passou a ser algo como uma facção, um clã. Uma temeridade, não ter vínculo com ela!
Benett

E fica essa pivetada tratando religião como se fosse time de futebol no Facebook… Porém, faz sentido. Seus ídolos em várias áreas fazem, além do “s2” com as mãozinhas estúpidas a cada gol e a cada aplauso idiota, sinais de louvação, de júbilo, de agradecimento. Seria até bonito, caso não fosse marketing.
Nani

O caso é que, voltando à política, possibilitou-se o sonho dourado de qualquer partido ou facção: uma base eleitoral pronta a corroborar cegamente tudo o que estiver sob a flâmula da cruz e do calvário, sem ponderações, sem maiores envolvimentos. Afinal, que “fiel” (aspas olímpicas!) levantar-se-ia contra o seu “pastor” quando este pregasse a “palavra” diante da Presidente, aquela “mulher do mundo”?
Consequente a isso, o que viria? Talvez, uma acusação de “impureza” ou de “possessão” por parte do coisa-ruim na coisa pública, seguida, obviamente, de uma candidatura heroica e “desejada por Deus” de um Marcelo Crivela da vida (ontem, noticiou-se a sua indicação a um ministério), sobrinho de um dos homens mais odiosos da nossa contemporaneidade, e membro (se eu não me engano, “bispo”) de uma das mais bem-sucedidas quadrilhas do mundo?
Tudo me parece favas contadas. Tudo me parece óbvio. Tão óbvio quanto uma leva de “fiéis” (aspas bíblicas!!!) postar, de coração clemente e indignado com estas mundaneidades, figurinhas (à semelhança dos “tazos”, vocês lembram?) com os dizeres “Meu Ídolo morreu por mim, e o seu?” ou (o melhor de todos) “Se você ama Jesus, compartilhe” após esta crônica.
O que será que eles diriam caso lhes fosse perguntado o real significado de compartilhar?

01/03/12