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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Gambiarra Blues Band - O Blogue

Amigos, este é o blogue da mais nova banda de blues, R&B, country e rock da praça, a Gambiarra Blues Band (obviamente, com esse nome, tinha que ter a ver comigo). Porque é assim que são em geral as coisas de minha vida: entrameladas, cheias de remendos e pontos por coser, cheias de lacunas por onde se pode espiar o que tem por dentro. Mesmo com minha poesia, mesmo com minha música, meu trabalho, meu tudo, acontece assim, um concerto cheio de consertos, vários “jeitinhos” (no bom sentido), como deve ser a de todo bom brasileiro.
Eu e Luíza Carolina, ex-vocalista da Gambiarra,
dona d'O Bazar
e uma de minhas grandes ternuras.
Eu e Rebeca Xavier, 1ª vocalista da Gambiarra,
escritora do livro de contos De Retalhos, dona do blogue Notas de Rodapé
e um de meus grandes amores.
Então, vamos à banda! Estamos ainda em fase de divulgação de material e de batalha por apresentações pelos bares da cidade, em eventos, festivais, lugares de responsa que estejam dispostos a divulgar os gêneros que tocamos (apesar de haver público, vivemos em uma cidade monocultural musicalmente). Nós somos seis: Washington Costa (violão-base e vocais), Naiana Iris (vocais), Antonio Ortiz (bateria e violões), Lucas Teixeira (guitarra-solo e vocais), Thiago Teixeira (baixo) e este que vos escreve, nas gaitas e nos vocais.
Gambiarra Blues Band
Gambiarra Blues Band
Tudo começou com quatro grandes amigos (Rebeca, Ortiz, Washington e eu) se reunindo num fim de semana para estravasar, beber, tocar e cantar, que a rotina de professor é dura… Pois é, somos todos professores na banda, mesmo na atual formação (a quarta), o que, muito curiosamente, é uma coincidência. Foi uma dessas tardes memoráveis, de celebração de amizade. De lá para o estúdio foi um pulo. Queríamos amplificar! Compromissos e impedimentos fizeram amigos entrarem e saírem, até chegarmos à formação atual. Daí, começou a ficar alguma coisa que valia a pena mostrar, e partimos para a primeira apresentação (os vídeos de duas de nossas músicas autorais estão aqui e aqui), a qual nos encheu de coragem. Depois, com a força do Bruno Marques, que veio a ser o nosso produtor, fizemos a segunda em outra cidade, Sobral, e aí acreditamos que a coisa poderia engrenar. E está engrenando.
Concha Acústica da Faculdade de Letras e História
da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA
O que começou como um passatempo entre amigos virou uma banda, e aqui estamos, cantando e tocando o que sentimos, da melhor forma que sabemos. Gostaria muito que vocês dessem uma olhada no nosso trabalho e criticassem, sugerissem, esculhambassem (pero no mucho, please)… ou seja, dessem uma força. Visitem a página completa da gente aqui.
Um abraço a todos, e muito blues para vocês!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

ESPAÇOS


A casa ficou maior, e tenho medo
— desses medos físicos —
de perder-me nos cantos, nos vãos que, até agora, desconhecia.
Imagino que crescer do jeito certo seja sobrepujar o espaço que te dão
com o que adéquas ao teu tamanho.
Não sou grande, nunca fui.
Contudo, sim, aumentei o meu espaço.
Enormemente.
Carpi veredas por dentro das capoeiras,
edifiquei pontes, escavei túneis,
pavimentei de sulcos fundíssimos dos sentimentos mais originais
a carne da minha terra,
tudo para que eu coubesse finalmente
numa pátria que reconhecesse
e onde, à noite, não me espantassem as trevas de lugares onde eu não houvesse.
Cresci como um câncer: explodindo e irradiando.
Como um câncer, nunca vi a luz do dia.
Ao meu redor, o Mundo, que me esperava — eu, amedrontado de ter úlceras —,
acolheu selvagem todos, de dentes e garras expostos,
ao passo que eu passava enviesado pelas frestas, entre um canino e um incisivo,
e emaranhava-me com minhas próprias raízes,
e entrava fundo em minha própria terra, de que aprendi a ser telúrico.

Tentara-me o Mundo fazer gente, das que proliferam em shoppings, boates, teatros,
das que superlotam estreias
e manifestam bens-comuns salpicados de vitórias romanas.
Não houve jeito.
Estou fatalmente e para sempre preso ao que me liberta,
ainda que me flagele dentro de ônibus e salas,
oculte-me de olhares — aos quais respondo mentalmente “não estou aqui” —,
e esmoreça paciente à gula do tempo,
sentado sob as mangueiras mortas e assombradas de minha infância.
Não me entrego.
Não pertenço ao que não sou,
não vivo onde não me hei morto e renascido,
seiva desentranhada da terra correndo branca nos folíolos que meu próprio hálito cuida de balançar
e de carregar de volta a mim, que absorvo e revivo.

Porém, angustia-me ainda o tamanho da casa, das pessoas que cresceram do jeito certo, do Mundo.
Ainda sinto o desejo infantil de saltar o gradil da entrada
que faz o limite entre o que sou e o que deveria haver sido.
Olho pelas janelas ocultas para a noite que começou há dois dias
e ainda prenuncia chuva
e desejo-a.
Como desejava visitantes ao berço de minhas palavras
quando elas tinham por quem nascer.
Cresceram. Algumas voaram, outras pastam bovinamente indolentes ao meu redor.
A maioria virou flores, matas, florestas,
produtoras das cores e do oxigênio daqui.

Algumas — as menos minhas — se aventuram
cheias de dentes e intestinos sobre os móveis, os carros e as pessoas porta afora,
dilacerando seus nomes, engolindo seus sentidos.
Observo-as com a adivinhação míope de sabê-las maiores,
bem maiores que eu, com sua fome de Mundo…
Uma vez lá, será que ecoarão de volta?

16/11/11

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

SEIS HORAS



Quantas horas existem dentro de seis horas?
Talvez, o suficiente para afogar-se a noite,
talvez, para resgatar-se o dia.
Certamente, para duvidar-se do mar,
tempo relativo ao homem e à terra,
ao coração e à fogueira morta das certezas,
às cinzas de dias passados
plenos de noites náufragas, infinitos de sal e algas,
onde respirávamos tu e eu, escafandrados nas palavras libertas das cartas,
nas memórias voláteis,
nas atrozes expectativas de que aquelas seis horas não bastassem para nós
para que pudéssemos ser quem éramos:
filhos do tempo urgente,
excertos da roda das almas ígneas,
fragmentos de minutos eviscerados à faca do infinito.

Estar acordado no inútil destas seis horas
com o peito cheio de tosses
e com dores em toda parte onde estiveste
é o pueril romântico dos meus quinze anos
decantado em aulas de Literatura Brasileira:
fulano morreu tuberculoso;
beltrano, de tiro no pé;
sicrano, esse, coitado, suicidou-se sem que se dessem dele.

É dessa época minha lembrança mais triste de morte:
um homem cujo fedor cadavérico só incomodou aos vizinhos meses depois de haver-lhe a morte recendido suas pétalas.
Morrera miseravelmente só e esquecido em sua casa de periferia
sem que lhe soubessem amigos nem relativos,
sem que lhe soubessem nada de dizer
além da manchete de noticiário.
Senti irmandade com aquele homem e pranteei-lhe
com toda a minha verdade e minha cobiça
de desaparecer tal qual, sem palavras de contar quem fui,
sem passado que me diminuísse à condição de fulano:
seria um corpo incômodo, dos que se aproveitam igual aos vermes qual aos estudantes de Medicina e aos alunos moleques secundaristas.

Estar acordado agora é ser aquele sujeito
no interminável de sua última hora:
um lapso do tempo em sua piada de relatividade.
Anônimo como o minuto que acabou de passar.

Porém, dirias, seis horas não é nada.
Um turno. Um quarto.

Um fôlego de náufrago
entre o mergulho e a luz salgada,
coisas de que é feita a rotina das orcas
e dos ponteiros maciços do relógio da torre da praça
onde eu te comprara um sorvete tão saboroso e pobre
como fora aquele dia em que me alumbraste.

09/11/11