Número de sílabas (desde 11/2008)

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terça-feira, 27 de setembro de 2011

PARA ALÉM


O que é que tem
Para além?
Um cá no espelho?
Ou é aquém do reflexo
Que jaz morta a luz
Que é nele espírito?

26/09/11

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

ENCANDEIA


“Meu amor tá perguntando
Como coisa que eu soubesse
E de lá eu vinha
Se lá estivesse”

Tem uma música hoje no nome da noite
Que não vai deixá-la ir, simplesmente, e virar manhã.
A noite dará algum trabalho às estrelas…
As que se esquecem — em vão — se lembrarão,
E velarão todas pelas janelas dois corpos
Que hão de se entender e que cheiram a seu turno o desejo do outro,
Num dueto bipartido de quatro mãos — e quilômetros de pele —
A tocarem seus corpos pelas partituras mornas e doces
E a buscarem em si o outro,
Que vibra assonantemente.

22/03/11

domingo, 18 de setembro de 2011

IN TRUTINA


(À Alana Vívian Almeida Loiola, que sentiu estes versos junto comigo)

“Porém, escolho o que vejo,
E coloco meu pescoço sob o jugo;
Ao jugo suave, todavia, submeto-me.”

Amo os invisíveis, eu acho. De fato, aos olhos, somos todos invisíveis.
Assim, acho que só amo os substantivos abstratos…
Não pode ser contido nem imaginado, não tem ícone.
Sua imagética depende dos sentidos — o abstrato se sente.
Acho que amo a sensação do talvez…
Uma ária de Puccini, uma Carmem, onde, a forma que a contenha?
Onde, a planura de uma luz que se expande rubra por toda parte em que deito os olhos, ou mesmo os esguelho, à tua procura?
Onde, o descortinado passadiço de sentimentos ao lado do qual, à janela, espero-te passar cheia de mim nos passos, nas pegadas, nas sandálias, no suor amendoado?
Onde, tu?
Não há concretude no esperar-te, e o esperar-te é tudo, em toda parte.
E não o vejo. Percebo-o. Exatamente inconstante como é, e exato como és.

17/09/11

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

UBI EST THESAURUS TUUS, IBI EST COR TUUM


Para quem sente, a verdade não interessa.
Caso se adéque, é apenas uma feliz, ainda que mera coincidência, que se esquece em dois tempos
— um, de perceber, e outro… de quê mesmo?
A verdade não se aplica, é reacionária, coisica fascistinha de merda.
Eu sinto, e tu, por quem sinto, sabes que vivo, e vivo porque sinto.
Que tem a verdade a verdadear sobre isso?
Dirá de mim morto? Dirá de ti sonho? Dirá de si Deus?
Deus não sabe dos homens, homens são de carne.
A Deus vão as almas, os descarnados fumos de Adão sob Seu dedo em riste.
A carne, esta, sim, morde-se, sangra-se, eviscera-se!
Arrebata-se fêmea aos anelos concupiscentes do macho
e, aos pés de ambos, conculca-se, desemaranha-se em fios macerados
para, depois, recoser-se em corpos novos de ardor real, de fúria e paz humanas.
A verdade não se fez para os homens, pelo menos não aos que têm sangue.
Se ela jaz com os mortos, em seus tutanos apodrecidos, isso é entre eles e Deus.
Eu estou vivo e sinto! Que verdade me desmentirá?

15/09/11

SOME SUGAR


I could use some sweet tonight
even though blinks me a glimpse of rain
and I’m made of the sugar of you.

14/09/11

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

DA IMPOSSÍVEL TAXIDERMIA


(À Vívian Rodrigues, mi mariposita del mar)

A liberdade é um bicho sem pele.
Qualquer coisa que a toque machuca.
Muito.
Inclusive e principalmente, outra liberdade.
Por isso, nunca se reproduz.

14/09/11

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

NASCER E SER REFLEXO


Preciso renovar minha fé nos ícones. Acabo de me pegar precisando de uma crença idolátrica, de um bezerro de ouro… qualquer coisa meramente material. O que é a existência de uma matéria sem estado físico? Sim, matéria sim, minha fé é matéria… O objeto dela é matéria. Mais que eu.
Nascer deveria ser para poucos. Não porque se faz o milagre. Nem porque somos muitos. Nascer deveria ser para poucos porque, de onde vimos, deve haver a vontade de não vir, vontade revertida em morte na pedra, no sal. O que há nessas pré-entidades não é a inanimação material: é o retrocesso da vontade. De onde vimos, não há que haver vontade nenhuma. Lá, somos simples, terrenais, mais que aqui, porque aqui o sabemos. Nascer deve ser, não tenho certeza, mas deve ser a vingança de Adão, ao retirar do Paraíso todos os seus filhos, porque são seus, e não d'Ele. Dessa perspectiva, nascer é explodir ao contrário, quer dizer, é reificar-se, é ordenar ultrajantemente o caos perfeito, é sujeitar-se, é submeter-se. É capturar-se a alma em um espelhinho de mão vagabundo, que se trocou pela filigrana fluida nos rios livres e selvagens pré-coloniais. O reflexo determina o refletido por influenciar-lhe a vergonha de perceber-se, dizem. E o que somos, quando nos damos conta do que éramos — de um nunca-mais sem jeito —, quando a matéria do corpo não nos serve mais, quando se percebe a argila como a vil continente da água que aprisiona?
Ontem, procurei um bom-dia que desse a uma dessas obrigações diárias com os vizinhos, registros vivos e aferidores comportamentais de minha sociabilização. Apático, não achei um que desse. Tranquei os cadeados do portão sem me dar deles (já são tantos cadeados…) e me fiz aos rios negros das ruas e das avenidas, até que a amarelidão urbana das lâmpadas de sódio anunciasse a hora de voltar. O poste defronte parece comigo: sustenta fios, não tem luz. À noite, assemelha-se a uma imagem de andor, patinada, envelhecida, de aparência curvada, inane, repleta da fuligem da vida… Na ausência de luz, oferendo-lhe insone meu sono, e ambos vigiamos para que a aurora não nos colha a lágrima seca de nossa liturgia.

08/09/11