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terça-feira, 16 de agosto de 2011

UMA SAUDADE SORRI CABISBAIXA


De todas as coisas de que ríamos juntos, mais ríamos do mundo, e ele nem se dava conta de nós quando éramos um par na plateia subversiva de crianças, e ele, a maldade desnuda de sua carne, com os ossos frágeis e quebradiços, marchando cego dentro das noites amarelas de sódio… Para onde foste, não há sódio. Fiquei eu aqui imerso em uma saudade do proibido, de uma liberdade traquina, pura. Hoje, minha saudade sorriu como quando fomos crianças juntos, como quando nossas gargalhadas riam acanalhadas e baixinhas, com medo de acordar o alheio. Pobre alheio, que não podia rir. Mais pobre que nós, pois era para nós como se fosse do mundo. Não era. Era pobre, era triste, triste de nunca ter sido totalmente alegre como fôramos, ainda que brevemente. Com ele, minha saudade entristece um sorriso, talvez mais adulto, talvez mais como aprendi o que é ser homem e a sê-lo. E como é ser assim? Um trazer em si a fugaz e desvairada carreira da liberdade e um atar-lhe correntes tetânicas, que deveriam, mas não dormem juntos? Gostaria, mas como eu gostaria de que sua cama degelasse! De que suas mãos novamente se dessem, de que suas vozes novamente cantassem! Talvez, soltasse-se a minha própria voz e, uma vez aberta e livre a garganta, eu vomitasse tudo o que não sou e, desobrigado de minhas âncoras, encontrasse-os. No almoço fervendo na cozinha, na barba sendo feita no banheiro, em meu próprio espelho. Hoje, meu, como várias outras coisas que não reconheço. Como será, meu Deus, como seria desatrofiar-se?

16/05/11

Um comentário:

Eliézer Araújo disse...

Quanto tempo que não te surgia aqui uma novidade deste teu recanto!

E, como sempre, essa sensibilidade aguda aí.