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domingo, 5 de junho de 2011

DESCAMINHO


Morte é uma coisa que vem vindo, vem vindo, disfarçada de idade, travestida em rugas resignadas, sestrando artrites, acenando doençazinhas… Morte é a idade.
A minha, quando chegar, para seu doce espanto, já vai me encontrar velho.
Terá pouco de fazer: talvez um afagar de cabelos, um beijo nos olhos, talvez só um cafezinho silencioso, amigo — bandeiriano. O silêncio nos colocará no mesmo patamar — também fui eu ao seu encontro e encontrei-a pronta, também eu não desejara a parlenda de uma visitante desconhecida.
No mais, ficam esquecidas as pequenas coisas: os papéis nunca lidos, os sapatos gastos, os porta-retratos ansiosos por reencontros. Ser velho como ela o quer é não precisar. É desfolhar-se um outono na folha, que suicida as árvores que fora e que nunca fora.
Outro dia, disse do ideal ser um pé de vento que me viesse e me desenraizasse, que me morresse uma morte com asas, com ar por todos os lados, arrebatadora. O que não sonham os desvalidos…
Quando ela vier, eu já serei brisa, já terei ido e vindo, já serei descaminho, estrada vicinal que nunca se dera de rodovias.
Quando vier, serei eu quem dirá com um leve meneio de olhos aonde irmos. E ela saberá.

06/05/11

Um comentário:

Rebeca Xavier disse...

eu temo que quando a minha chegue, chegue muito tarde e que já me encontre morta.