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quinta-feira, 19 de maio de 2011

ORAÇÃO PELAS ESTRELAS


Meu Deus, tende piedade dos que, fortes, são verdadeiramente frágeis
pelo que os tornam frágeis as obrigações de sua própria força.
Deitai Vossos olhos sobre seu peito,
pois nele sangram dicotomias e paradoxos infernais,
misturam-se ácidos com sais e açúcares, formando um fel
do qual se alimentam todo dia.
Amparai-os, Senhor, recebei-os.
Eles vão a Vós derrotados, humilhados, mastigados e cuspidos pelo mundo
a que nunca foram capazes de adaptar-se.
São seus olhos de órbitas prismáticas que, janelas escancaradas,
aceitam tudo como luz
e não rejeitam nada, e invertem paisagem e casa,
e obrigam-nos à matéria dos corpos, à estrutura dos ossos, à maquiagem do riso,
porque são feitos apenas de vontades, desejos e consciências,
porque a forma é uma donzela de ferro que lhes sangra e sorri.
Assim, deslocados, marginalizados, destruídos sob máscaras de bronze,
armaduras de titânio, escudos e lanças de diamante,
eles se deitam fetais no escuro e choram, e pedem pela morte.
Apiedai-Vos deles. Não é sua culpa serem alados de asas aleijadas,
mondrongos ocultos sob disfarces humanos.
Não é culpa sua não terem fôlego nem terem o medo que leva os ordinários a Vós.
Nem o é o não serem cordeiros, Senhor — a lã os sufocaria à morte.
Lembrai-os do que são feitos: Vossa imagem e semelhança.
E compreendei que, assim, não se poderia esperar-lhes subserviência.
Caso não caibam em Vosso céu, meu Deus, em virtude do ciúme dos santos e dos anjos,
dos que Vos obedeceram cegamente e arderam, e se imolaram, e se flagelaram, e mataram mouros,
guardai-os do lado de fora, em paz.
Deixai-os ser a forma que, aqui, tiveram de ocultar:
concedei-lhes, ó Pai, a distância e a solidão de uma estrela,
das que as crianças contam nas noites interioranas
e nas urbanas em que falta energia elétrica,
quando os homens recolhem-se ao seu medo e recorrem a Vós, acovardados,
pois foram aqueles também crianças,
mas das que não dormem nem temem, embora sonhem secreta, mas concretamente
com o sempre serem-nas.

19/05/11

Um comentário:

Lilian Holmes disse...

Amem... Por todos nos que nos axamos fortes e quando a cortina se abre, e vemos que somos nos mesmos que vamos atuar, nos tornamos tao fracos e debeis a ponto de querer fugir covardemente de nossas decisoes...